domingo, 21 de abril de 2013

Palestra sobre a vida e as obras de Graciliano Ramos, realizada no dia 10 de abril de 2013, na Academia Niteroiense de Letras.
Palestrante: Luiz Antonio Barros.

Prof. Luiz Antonio Barros
Graciliano Ramos, Rio de Janeiro em 1952.


Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Entrega do Certificado e comentários

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

PALESTRA SOBRE JORGE AMADO
NA ANL

Os vídeos não foram editados e teve um probleminha técnico nos últimos, mas serviu para guardar esta reunião cultural de Niterói.
Breve terá o texto do relator Prof. Luiz Antonio Barros.

sábado, 18 de setembro de 2010

LUIZ ANTONIO BARROS


            Luiz Antonio Barros, professor, casado, filho de Leilio Barros e de D. Janyra Portugal Barros, nasceu em Vitória, Estado do Espírito Santo, em 25 de julho de 1946. Aos Três anos de idade, sua família mudou-se para o Estado do Rio, morando em algumas cidades desse estado, até fixar-se em Niterói.
            Nas cidades por onde passou, Luiz Antonio estudou quase sempre em escolas públicas, fez curso Técnico em Contabilidade, carreira para a qual jamais se sentiu vocacionado. Em 1965, ingressou na Faculdade de Direito de Niterói, mas cursou apenas até o 2º ano. Em 1967, ingressou no curso de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF), concluindo-o em 1970. Em 1998 fez o curso de especialização em Psicopedagogia na Universidade Cândido Mendes. É importante notar que Luiz Antonio começou a lecionar quando ainda cursava o 1º de Letras e hoje, já aposentado pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro, continua a ministrar aulas no curso Pré-Vestibular desse estabelecimento de ensino, o que prova seu profundo amor ao magistério.
            Lecionou em diversas escolas públicas e privadas, como o Instituto de Educação “Clélia Nanci”, em São Gonçalo, de 1969 a 1996, onde, além de professor, desempenhou a função de coordenador de Língua Portuguesa. Foi professor do Colégio Estadual Henrique Lage (1976-1994), da Escola Estadual Joaquim Távora (1997-1998), do Instituto Gay-Lussac (1978-1985), do Curso Acadêmico (1985-1995), do SENAC-Niterói (1971 – 1995), dentre outros.
            É formado em Teoria Musical pelo Conservatório Brasileiro de Música (1962). Recebeu no Colégio Militar a medalha Marechal Trompowsky (patrono do magistério do Exército).
            Em 1986 publicou, com o professor Paulo Roberto Poppe, o livro didático Lendo, pensando e redigindo em língua portuguesa, pela SEGEL, editora do Instituto Gay-Lussac, com um prefácio do saudoso Ângelo Longo.
            Em 1999 publicou, em parceria, o livro didático Língua portuguesa: instrumento e ação, em dois volumes, destinados ao Ensino Médio, Edição dos Autores (Niterói).
            Em 2000, publicou, em parceria, o paradidático Conto de escola (e muitos mais...), contos de Machado de Assis, publicados pela EdG, de Niterói.
            Em 2008, lançou pela Nitpress (Niterói) o Dicionário de ditados, provérbios, alusões, citaçãoes e paródias.
            Em 2009, colaborou na edição crítica da 2ª edição do livro Vida apertada, de Luiz Leitão, organizada pelo professor Roberto S. Kahlmeyer-Mertens, pela Nitpress.
            Em 2010, foi publicada também pela Nitpress, a antologia Viagem literária através do Estado do Rio, organizada por Barros, Sonetos, de Sylvio Figueiredo e Luiz Leitão, edição organizada pelo professor Kahlmeyer, com glossário e notas feitos por Barros, pela Editora Nitpress, bem como o livro Aprendendo português com a Bíblia.
            Dentre Algumas críticas elogiosas sobre o autor, podem-se destacar:
            “É uma obra integradora, didática, informativa e direta, pretendendo definir uma melhor estratégia para a ativa participação da clientela estudantil.”(Ângelo Longo, Lendo, pensando e redigindo em Língua Portuguesa).
            “Agora trazemos ao público estudantil e aos professores o mestre Machado de Assis, numa seleção de seus mais notáveis contos, Contos de escola (e muitos mais...), numa edição feita por professores que têm muita experiência de sala de aula e anos de vivência no ensino da Língua Portuguesa.”
            “Creio, pois, que, por todas as virtudes apontadas nesta pesquisa empreendida pelo Professor Luiz Antonio Barros, na qual o traço inconfundível é o seu entusiasmo, paciência e meticulosidade com o trabalho lexicográfico, o dicionário ora publicado há de alcançar muitos leitores e colimar com êxito seus objetivos.” (Cunha e Silva Filho, Dicionário de ditados, provérbios, alusões, citações e paródias).
            “A nova publicação do seu livro, importante sob todos os aspectos, vem acrescentada ao fac-símile da edição princeps, de 1926, bem como de fortuna crítica (...), além de um curioso glossário [esse glossário é da autora de L. A. Barros].” (Uelinton Faria Alves: Vida apertada: sonetos humorísticos, JB, 12/12/2009).
            “Luiz Antonio Barros assumiu admiravelmente a tarefa de elaborar uma antologia de autores fluminenses. Diríamos, mesmo, que ser antologista constitui a “segunda pele” deste professor reconhecido por sua clareza e didática.” (Roberto Kahlmeyer-Mertens: Viagem literária através do Estado do Rio).

LUÍS ANTÔNIO PIMENTEL 
(Artes Fluminenses, 31/08/2010)


Viagem pelos caminhos da literatura fluminense

A Editora Nitpress lança neste sábado, dia 28 de agosto, das 10 às 13h, no Calçadão da Cultura - Livraria Ideal (Rua Visconde de Itaboraí, 222, Centro, Niterói), o livro Viagem literária através do Estado do Rio, de Luiz Antonio Barros. Trata-se de uma antologia pioneira, focalizando apenas escritores fluminenses de todas as regiões do estado, cuja essência procurei exprimir no texto da orelha, que reproduzo a seguir:
Quem trafega pelas estradas fluminenses tem a oportunidade de apreciar um rico mosaico de paisagens formado pela diversidade geográfica do Estado do Rio. O conjunto de microrregiões bastante distintas produz um contraste de efeitos panorâmicos e climáticos, separados apenas por alguns poucos quilômetros de percurso. Praias quentes de um lado, montanhas frígidas de outro; planícies ao Norte, píncaros ao Sul; areais e brejos; lagos e rios; ilhas e baías; florestas tropicais, plantações e gados coexistindo em harmonia.
A mesma síntese imposta à geografia também predomina no panorama cultural do estado. Aqui prosperaram todas as correntes literárias, com volume e intensidade incomparavelmente superiores a quaisquer outras regiões do país. Em seu livro Formação literária brasileira - momentos decisivos, o crítico Antônio Cândido relaciona os nomes mais relevantes no processo de construção de uma identidade literária nacional, que se deu basicamente entre o período Barroco e o Romantismo. De todos os escritores citados na alentada obra, mais de 30% eram filhos da Velha Província; outro tanto, nascidos na cidade do Rio de Janeiro. Ou seja, a região fluminense respondia por mais de 60% dos maiores nomes da literatura brasileira àquela época.
As safras seguintes se mantiveram fiéis, em corpo, aroma e paladar, às primeiras gerações. E todas elas ainda são degustadas hoje, com o benefício dos carvalhos do tempo, sem sofrerem a condenação do esquecimento reservada aos medíocres.
As cepas literárias fluminenses incorporaram às suas características as qualidades da terra e se encontram bem distribuídas por todo o estado. O Romantismo nasceu no Rio, na antiga Corte, nos versos de Gonçalves de Magalhães, mas introduziu a prosa em Cabo Frio, com Teixeira e Sousa, autor do primeiro romance do gênero; o Parnasianismo também se dividiu entre a metrópole e o interior fluminense em dois de seus maiores expoentes - Olavo Bilac e Alberto de Oliveira; do Leste surgiu Casimiro de Abreu; do Sul, Fagundes Varela; do Norte, Luís Antônio Pimentel; das planícies, José Cândido de Carvalho; das montanhas, Euclydes da Cunha; de Niterói, a nossa antiga e eterna capital, Antonio Callado.
Para percorrer os caminhos dessa fabulosa teia cultural, Luiz Antonio Barros nos oferece a Viagem literária através do Estado do Rio em oito roteiros que cruzam a totalidade das regiões fluminenses. É, seguramente, a mais abrangente e panorâmica antologia focalizando autores coestaduanos, em que estão relacionados mais de uma centena de escritores de quase todos os nossos municípios. Mesmo aqueles que menos granjearam os chamados vultos imortais têm a oferecer um poeta da terra, um prosador nativo que pouco atravessou seus limites ou mesmo um letrista popular. O organizador desta antologia foi buscá-los nos mais distantes rincões do estado para figurar ao lado de escritores consagrados pelo público e de outros que, se não cintilaram com o mesmo brilho destes, certamente contribuíram também para formar, como estrelas de diferentes grandezas, a constelação literária fluminense e brasileira.
A editora Nitpress, dedicada à defesa da identidade regional, à preservação de uma cultura genuinamente fluminense e ao resgate dos grandes vultos da literatura estadual através de diversas iniciativas, como a coleção “Introdução aos clássicos fluminenses”, orgulha-se, agora, em poder oferecer este maravilhoso passeio através dos valores literários de nossa terra, visualizados a partir de seus berços natais. Aos leitores que embarcam conosco nessa autêntica caravana literária fluminense, desejamos uma boa e prazerosa viagem!
Luiz Augusto Erthal
Publisher - Nitpress










AURÉLIO FAZ CEM ANOS: NEM PARECE!
OU:  CENTENÁRIO DE AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA, O AURÉLIO DO BRASIL

Professor Luiz Antonio Barros

1) Dos livros e dos dicionários  -  epígrafes

a) “ Não há livro tão mau que não tenha algo de bom.” – Cervantes, apud Dicionário  Universal Nova Fronteira de Citações , de Paulo Rónai.
b) “ Que nunca o livro fique longe de tua mão e de teus olhos.”  S. Jerônimo, apud Rónai.
c) “ Se livro fosse cultura, os cupins seriam os seres mais cultos do globo. Só livro lido é cultura.”  -  Cláudio de Moura Castro, in VEJA, de 18 / 06 / 2010.
c) “ Dicionário  ─  livro chamado de pai dos burros, apesar de os burros não saberem ler.” – Minidicionário Anticonvencional, de Sandro Rebel.
d) “Livreiro  ─  comerciante que vende o que não tem preço: o saber.” – Idem.
e) “ Leitor, o livro em verdade,  /  é seu. Pertence a você. /  O autor só faz a metade.  /  Autor do resto ... é quem lê.” – Rapsódia para Sanfona, de Sávio Soares de Sousa.
f) “ Escrevo com o dicionário.
    Sem dicionário não posso escrever  ─  como escritor.”  -  Gilberto Amado, citado como uma das epígrafes do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 4. ed., 2009.
g) “ A língua portuguesa muda a todo instante. Muitas palavras surgem, outras caem em desuso, desaparecem. Mas palavras não morrem. Até perdem o uso, mas continuam guardadas. O dicionário faz com que elas existam.”  - Marina Baird (*)Ferreira, viúva de Aurélio Buarque, em entrevista à revista “ Língua Portuguesa”, ano III, nº 28, 2008.

(*) Baird : pron. bérd.

2) AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA: O MESTRE AURÉLIO.

Nascimento:   Passo de Camaragibe, Alagoas, 03 / 05 / 1910.
Falecimento: Rio de Janeiro, 28 / 02 / 1989.

Crítico literário, filólogo, professor, tradutor, ensaísta e, acima de qualquer coisa, lexicógrafo. Filho de Manuel Hermelindo Ferreira, comerciante, e de Maria Buarque Cavalcanti Ferreira.
1923:  mudou-se para Maceió, onde, aos 14 anos, começou a dar aulas particulares de português.  Aos 15 anos, ingressou efetivamente no magistério: foi convidado pelo Ginásio Primeiro de Março a lecionar no seu  curso primário. Já naquela época passou a se interessar por língua e literatura portuguesas.
Em 1930 fez parte de um grupo de intelectuais que exerceria forte influência literária no Nordeste, destacando-se Valdemar Cavalcanti, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Raquel de Queirós.
1936:  formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Recife. Nesse ano tornou-se professor de Língua Portuguesa e Francesa e de Literatura no Colégio Estadual de Alagoas.
De 1937 a 1938, foi diretor da Biblioteca Municipal de Maceió.
1938:  mudou-se para o Rio de Janeiro e continuou no magistério.
1939-1940:  professor de Português e Literatura Brasileira, no Colégio Anglo-Americano.
1940 – 1969:  professor de Português no Colégio Pedro II.
1949 – 1980:  professor de ensino médio do Estado do Rio de Janeiro.
            A.B. também publicou artigos, contos e crônicas na imprensa carioca. De 1939 a 1943, atuou como secretário da Revista do Brasil. Em  1941, deu início ao seu trabalho de lexicógrafo, colaborando com o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. Em 1942, lançou o livro de contos Dois Mundos, premiado dois anos depois pela ABL.  Em 1943, trabalhou no Dicionário Enciclopédico do Instituto Nacional do Livro. Em 1945, publicou o ensaio Linguagem e Estilo de Eça de Queirós. Também em 1945 participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, e lançou com Paulo Rónai, o primeiro dos cinco volumes da coleção Mar de Histórias, uma antologia de contos da literatura universal. O v. 2 apareceria em 1951, o  3 em 1958, o 4 em 1963 e o 5 em 1981. Ainda em 1945, casou-se como Marina Baird, com quem teve dois filhos: Aurélio e Marisa Luísa, e cinco netos. Entre 1947 e 1960, produziu textos para a seção O Conto da Semana , do suplemento literário do Diário de Notícias. Em 1949, lançou uma edição comentada do livro “ Contos Gauchescos e Lendas do Sul”, de João Simões Lopes Neto.
            A partir de 1950, começou a escrever para a revista Seleções do Reader’s Digest, na seção Enriqueça o Seu Vocabulário. Em 1958, reuniu todos os artigos que produziu para essa seção, publicando-os em um livro com o mesmo título. Lembro-me bem de que meu pai assinava “ Seleções” e eu acompanhava com curiosidade e pasmo a seção “ Enriqueça o Seu Vocabulário”. Foi aí que começou o meu fascínio pelas palavras. Meu pai comprou o “ Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa”, que está na estante dele até hoje, apesar de um tanto defasado.  Em 1952 é lançado “ O Romance Brasileiro” ( de 1752 a 1930.), sob a coordenação de A.B.  Em 1956 publica, em colaboração  com Álvaro Lins, o “ Roteiro Literário do Brasil e de Portugal”, em dois volumes. Publica “ Território Lírico” ( ensaios ), em 1958. Em “ Gonçalves Dias”, v. 18 da Coleção Nossos Clássicos, da Agir, 1969, lemos: “ Investigando o segredo da simplicidade desta canção ( Canção do Exílio ), acreditou Aurélio Buarque de Holanda  tê-lo encontrado em mais de um ponto. Primeiro, na ausência de qualificativos, ausência que valoriza fortemente os substantivos do poema, ‘ substantivos carregados, já por si,  de um denso conteúdo sugestivo’; segundo, a admirável técnica da repetição : sete dos vinte e quatro versos da canção repetem na íntegra versos anteriores, e quatro são repetições parciais. Se a ausência de qualificativos  e a boa escolha dos substantivos concorreram grandemente para o efeito de simplicidade, o encadeamento e o paralelismo reforçaram, no seu ar como que largado, o sentimento de funda e sossegada, de quase religiosa nostalgia. ( Território Lírico. Ensaios, Edições O Cruzeiro, Rio, 1958, p. 25-32 ).”
             Em colaboração com Manuel da Cunha Pereira, lança em 1961 o Novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
            De 1954 a 1955, lecionou Estudos Brasileiros na Universidade Autônoma do México, contratado pelo Ministério das Relações Exteriores. A preocupação  com a língua portuguesa e o amor pelas palavras levou-o a estudar e pesquisar o idioma durante muitos anos com o objetivo de lançar o seu próprio dicionário.  Finalmente, em 1975, foi publicado o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, conhecido como Dicionário Aurélio ou somente Aurelião ou Aurélio. Modesto, ele vetou a inclusão, na sua obra, do verbete “Aurélio” como sinônimo de dicionário. Desde a publicação de seu Novo Dicionário... , em 1975, Mestre Aurélio  ─  como era e ainda é conhecido ─  atendeu a muitos convites, no Brasil inteiro, para falar do Dicionário e dos mistérios e sutilezas da língua portuguesa, que ele enriqueceu de tantos brasileirismos, fazendo do brasileiro comum um consulente de dicionário e um usuário consciente do seu idioma. Tive o privilégio de ouvi-lo por duas vezes em Niterói e me lembro de que um dos ouvintes perguntou a Aurélio se ele conhecia todas as palavras de seu dicionário.  Ele respondeu que não, pois havia uma equipe encarregada dos vários assuntos contidos no  dicionário,  dos quais ele nada ou quase nada sabia. O Novo Dicionário... está na 4ª. edição ( 2009), é publicado e distribuído pela Editora Positivo. A coordenação e a edição estão  sob os cuidados, mais uma vez, de Marina Baird Ferreira ( viúva do dicionarista ) e de Margarida dos Anjos. A obra possui 435.000 verbetes e a nova edição, que deve sair em outubro de 2010, terá 137.838 verbetes. O Novo Dicionário... veio preencher uma enorme lacuna, a partir de 1975, especialmente no campo da etimologia, pois os melhores dicionários brasileiros sobre o assunto não estavam à disposição do consulente: os de Nascentes ( em dois volumes ) estavam esgotados havia décadas e até hoje constituem raridade; o de Antônio Geraldo da Cunha só seria editado em 1982. Aurélio pronunciou diversas conferências  sobre assuntos literários e linguísticos, no México, E.U., Cuba, Guatemala e Venezuela.
            Em 1977, publicou o Minidicionário da Língua Portuguesa, que também é chamado “Miniaurélio”. Em 1989, lançou o Dicionário Aurélio Infantil da Língua Portuguesa, com ilustrações de Ziraldo Alves Pinto. O autor também traduziu várias obras, como Poemas de Amor, de Amaru, “ Pequenos Poemas em Prosa”, de Charles Baudelaire e os contos para a coleção Mar de Histórias, dentre outras.
            A.B. foi membro da Associação Brasileira de Escritores na seção do Rio de Janeiro ( 1944 – 1949 ), da Academia Brasileira de Filologia, do Pen Clube do Brasil ( centro brasileiro da Associação Internacional dos Escritores ), da Comissão Nacional do Folclore, da Academia Alagoana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Hispanic Society of America.
            Foi eleito como imortal da ABL em 4 de maio de 1961, ocupando a cadeira nº 30, na sucessão de Antônio Austregésilo.
            A.B. tinha ascendentes holandeses e  ─  possivelmente  ─  era primo distante de Sérgio Buarque de Holanda.

3) Algumas impressões sobre os dicionários de Aurélio Buarque ( e sobre outros dicionários, também )

a) Curioso é observar que até poucos anos a palavra meio ambiente inexistia nos dicionários e alguns professores de português justificavam essa  omissão ( ainda que em franco uso na linguagem oral e escrita ) alegando que meio e ambiente são sinônimos , logo as palavras são redundantes. A palavra hoje está dicionarizada e ponto final.

b) Em edições mais antigas, o adj. chato, com a acepção de maçante,  aparece como palavra chula, por associação ao inseto que adora morar na região pubiana. ( Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11ª. ed., supervisionada e consideravelmente aumentada por A.B.H com a assistência de José Baptista da Luz e revista e aumentada por inúmeros especialistas ( 1969 ). Tabu sexual felizmente ultrapassado! Hoje o Aurélio e os demais dicionaristas registram o voc.  como f. pop., informal e a palavra é proferida até pelos mais cândidos padres e pastores em seus púlpitos.  

c) Foi com surpresa que descobri, folheando o Aurélio,  que cobaia é um roedor, originário da região andina, sendo tb us. em laboratórios para fins experimentais ( o m.q. porquinho-da-índia ). No sent. fig., significa campo ou objeto de experiência. Levei muitos anos achando que cobaia, com a acepção de “objeto de experiência”, era o seu sent. denotativo.

d) Chupando balas de jujuba desde a infância, só muitos anos mais tarde descobri , casualmente, folheando o Aurélio, que jujuba é o fruto da jujubeira, árvore semelhante ao juazeiro, que ocorre da BA a SP. Jujuba é a massa, fruto e bala feitos desse fruto.

e) Quando criança, consultei o Aurélio na quase certeza de que parir era um verbo chulo. Surpreendi-me. O que ocorre com este vocábulo é que ele anda muito mal acompanhado. Daí... A propósito, conheci uma pessoa que não empregava palavrões em hipótese alguma. O problema é que ele considerava palavrões algumas palavras que não podem ser classificadas como tais. Disse-me ele certa vez: Esta televisão eu comprei no Lugar Franco de Manaus. Lugar em vez de zona, que para ele é um chulismo. Exagerado e descabido tabu linguístico!

f) Encarregado da limpeza pública e gari são dois eufemismos para lixeiro. Informa o Aurélio que o vocábulo gari origina-se do antr. Aleixo Gary, incorporador de uma antiga empresa incumbida da limpeza das ruas cariocas. Houaiss data a pal. : 1909. Gary era francês e radicara-se no Rio de Janeiro desde 1859.

g) Neotestamentário ( relativo ao Novo Testamento ), é um adj. que se encontra no VOLP, de 2009,  no Houaiss, mas não está registrado no Aur., nem no Michaelis,   nem no Dic de Usos do Port. do Brasil, org. por Francisco da Silva Borba. Veterotestamentário, seu ant.,  é um adjetivo que se encontra no VOLP, de 2009. O Aurélio, o Houaiss, o Michaelis não o registram. O Dic. de Usos do Português do Brasil  registra: relativo ao Velho Testamento. E traz uma abonação.
            Cabe informar que o Dic. de Usos... tem muito menos verbetes  que os três anteriormente citados. Portanto, se alguém me perguntar qual é o melhor dicionário de língua portuguesa no Brasil, não tenho como responder. Ou então: o Aurélio e o Houaiss. Mas... como dispensar os outros?

h) Antônio Rogério Magri, Ministro do Trabalho do governo collorido, marcou sua administração por frases surpreendentes. Indagado de como ficaria a aposentadoria, respondeu com o adjetivo imexível. Qual o rombo da previdência? Elefantal, disse o Ministro. Muitos riram dessas palavras, a imprensa ironizou. Elefantal não pegou, mas imexível  está no VOLP de 2009  e no Houaiss: em que não se pode mexer; inalterável. Datação: c. de 1990.

i) Certos neologismos são criados para situações especiais, únicas, daí não entrarem nos dicionários. É o caso do v. teadorar, usado por Manuel Bandeira no famoso poema
“ Neologismo”: “ Beijo pouco, falo menos ainda. / Mas invento palavras / Que traduzem a ternura mais funda / E mais cotidiana. / Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. / Intransitivo: / Teadoro, Teodora.” É tb o caso de um  adjetivo us. por Drummond em “ O homem; as viagens”, poema escrito em 1969, quando os astronautas americanos pisaram a Lua:  “Restam outros sistemas fora / do solar a col- / onizar. / Ao acabarem todos / só resta ao homem / ( estará equipado? ) a dificílima dangerosíssima viagem /  de si a si mesmo:” Portanto, não pesquisem no Aurélio teadorar nem dangerosíssima!

j) Ao pesquisarmos no dic. palavras como emaranhar e encasquetar, descobrimos que são formadas por parassíntese: e + maranha + ar   e  en + casquete + ar. Havendo necessidade, procura-se maranha e casquete e está resolvido o problema.
Lembro-me de ter ouvido ou lido a palavra atazanar e deduzi ser derivada de um possível subst. tazana. Atazanar é a f. pop. de atenazar, significando apertar com tenaz e em sent. fig. torturar, mortificar. Aur. abona atenazar com passagens do alagoano Graciliano Ramos e do port. Alexandre Herculano. Ocorre que todo mundo usa a f. pop. atazanar.  Mais eufônica? Indiscutivelmente.
Outra curiosidade: enxotar é der. da interj. lusa xote, usada para afugentar aves.( Aurélio ). Seg. Houaiss, der. de xut! ou xot!, sin. de xô! Interj us. para afugentar aves, insetos, animais, etc. Trata-se de um caso raro de parassintética der. de interj.
l) Desde criança ouço falar na gíria biruta como pessoa irrequieta, amalucada ( A frase vem quase sempre acompanhada de um gesto característico ).  Com o Aurélio aprendi que o significado original da palavra é outro: aparelho que indica a direção dos ventos de superfície , empregado nos aeródromos para orientação nas manobras dos aviões.
Abon.: “ O enredo da Unidos de Vila Isabel parece biruta de aeroporto: comporta-se ao sabor do vento.” – JB, 16 / 05 / 2010.

m) À toa, à direita, à esquerda, às pressas ... O que há de comum nestas locuções é a presença de um substantivo. Existe o s. toa? Sim.
TOA – ( Marinha ) Cabo com que uma embarcação reboca outra. De toa : no rio S. Francisco, diz-se da navegação sem propulsão, em que as embarcações são levadas rio abaixo pela ação da correnteza, praticamente dispensando a intervenção dos remeiros. Por ext. e em sent. fig. significa:
1. a esmo, ao acaso, sem reflexão : Caminhava à toa / Disse que fez a pergunta à toa.
2. informal e despretensioso : Uma conversa à toa, agradável.
3. por motivo frívolo : Brigaram à toa.
4. sem ter o que fazer:  Arranjou aquele bico para não ficar à toa. /// “ Estava à toa na vida / O meu amor me chamou” ( Chico Buarque )
5. irrefletidamente:  Falou à toa.
6. por si só : A plantinha nasceu à toa no jardim. ( Dic. Houaiss )

n)  PISCINA e AQUÁRIO
PISCINA  – Etim.: do lat. “piscina” ( de pisces, “peixe” ), significando “ viveiro de peixes”
1. Reservatório de água onde se costumavam criar peixes. ( Aurélio ). Atentar para o tempo verbal: costumavam. Esta é a acepção etimológica da palavra.
2. Tanque para banho, lavagem de roupa ou bebedouro de gado.
3. Tanque artificial para natação. ( sentido mais empregado, hoje )
4. Pia de batismo. ( Aurélio )
AQUÁRIO  - Do lat. aquariu, “reservatório de água”. Depósito de água para conservar , criar ou observar animais ou plantas aquáticas, e especialmente peixes ornamentais; viveiro. ( Aurélio )
            Etimologicamente, piscina deveria ter obrigatoriamente peixes, enquanto aquário só deveria ter água.

o) BOLOTA
A bolota ( do ár. balluta ) é um fruto produzido pela azinheira, pelo carvalho e pelo sobreiro, árvores da família do carvalho.O sobreiro e a azinheira existem em Portugal, em maior abundância no Alentejo.
            Os porcos criados na região de Portugal onde existem sobreiros e azinheiras alimentam-se dessas bolotas que dão à sua carne um sabor especial.  Esses porcos, de tamanho pequeno e patas de cor escura, são utilizados para fazer um presunto apreciado em todo o mundo. ( Wikipédia, acessado em 17/05/2010 ). A pal. bolota é cit. em Aurélio e aparece na conhecida parábola do filho pródigo, em Lc 15:16: “ E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.( A Bíblia Sagrada, trad.de João Ferreira de Almeida, que era português, usada pelos evangélicos. Imprensa Bíblica Brasileira, Rio de Janeiro, 1962 ). A ed. rev. e atualizada de Almeida, de 1993, emprega alfarrobas, pal. de origem árabe, fruto da alfarrobeira, árvore cujo fruto é uma vagem de polpa doce e muito nutritiva, us. contra a gastrenterite dos lactentes, e cuja madeira, vermelha e dura, se emprega em marcenaria. É o que nos informa Aurélio. O Dicionário da Bíblia de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil, 2ª. ed, 2005, informa que a alfarroba é us. como alimento para animais e os pobres a comiam. A Bíblia Sagrada da Paulus ( ed. católica ) usa a palavra lavagem, restos de comida que se dão aos porcos. ( Aur.)  O Dic. da Academia das Ciências de Lisboa ( Editorial Verbo, 2001 ) dá o termo como regionalismo e tb cita  a acepção pop. e deprec. de comida ou bebida que contém demasiada água e se torna por isso desenxabida, insípida: Esta sopa é uma autêntica lavagem.. Esta acepção tb se emprega no Brasil.

p) Os dicionários nem sempre agasalham o significado de certas palavras. Lembro-me de dois logradouros de Niterói que têm denominações muito curiosas: o Largo da Batalha e o Largo do Marrão.
No Largo da Batalha jamais se travou uma batalha sangrenta, com muitas vítimas fatais.
Pelo contrário, em plena folia carnavalesca, nesse Largo pipocava uma entusiasmada batalha de confetes. É o que reza a tradição. Quanto ao Largo do Marrão, esclarece Carlos Wehers, em seu “ Niterói, Cidade Sorriso: “ O Largo do Marrão lembra um de seus antigos habitantes, Manuel Antônio Marrão que, ao lado de outro morador, Francisco Valadas, prontificou-se, nos idos de 1841, a auxiliar voluntariamente a Câmara Municipal, nas obras de conservação da futura Rua de Santa Rosa.”  Há uma outra interpretação: é a de que ali eram vendidos leitões, ou seja, pequenos porcos desmamados a que se dá o nome de marrões – pal. que provém do árabe “ mharram”, que significa “ proibido”, já que o Corão – livro sagrado do islamismo – proíbe comer carne de porco.( “Às margens plácidas do rio Calimbá”, de Antônio Soares, Niterói, Niterói Livros, 2004 ) É conhecido popularmente como Largo do Marrom ( evidente corruptela popular ).  Curiosidade: marrom, além de cor, é tb sobrenome.

q) O Dic. Houaiss da L. Portuguesa registra a expr. “sombra e água fresca” como “ situação muito cômoda e confortável, em que não há dificuldades ou trabalhos duros.” Aurélio tb a registra.
            A expr. tem sentido conotativo. Haverá algum registro em sent. denotativo? Ouçam a passagem a seguir:      
            “ Um dia Lúcia chegou-se a mim com certo ar de mistério:
            ─  Quer fazer amanhã um passeio comigo?
            ─  Aonde?
            ─  A São Domingos
            ─  Se isso te causa prazer!...
            Partimos às quatro horas da madrugada numa falua [ embarcação a velas triangulares usada para serviço ], que atravessou rapidamente a baía e levou-nos à Praia de Icaraí. (*) Não sei se ainda aí perto existe um velho casebre, escondido no mato e habitado por uma velha e dois filhos, que nos hospedaram, ou por outra, nos deram sombra e água fresca.” ( Lucíola, Cap. 18 )
            Alencar usa a expr. em seu sentido denotativo, hoje em desuso total.

(*) Icaraí: i ‘água,rio’: caraí ‘bento, sagrado’. Água benta, água santa, rio sagrado. – Luís Antônio Pimentel, Topônimos tupis de Niterói, in Obras Reunidas, v.1, Niterói Livros, 2004.

           
                                                          
                                              
                                                           CONCLUSÃO
           
            Assim como as crianças estão familiarizadas com José Bento de Monteiro Lobato e, por isso, acham que ele ainda está vivo ( o Sítio do Picapau Amarelo contribuiu decisivamente para essa “longevidade” ), assim como Elvis Presley para muitos também não morreu, o mesmo acontecendo com Renato Russo, Raul Seixas, Cazuza e tantos outros, o mestre Aurélio, que também “não morreu”, em maio de 2010 teria completado cem anos. Ele continua vivo, irrequieto, infatigável, solícito e permanecerá conosco enquanto , diante da perplexidade provocada por uma palavra desconhecida, alguém ainda sugerir: “Pergunte ao Aurélio!” Daí reiterarmos o que foi dito no início de nossa conversa: “Aurélio faz cem anos: nem parece!”                      

Palestra proferida na Academia Niteroiense de Letras, em 01 de setembro de 2010


HOMENAGEM A MÁRIO BARRETO FRANÇA ( Recife, 1909  ─  Niterói,         1983 ), NA COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO.

            Li recentemente dois livros de Barreto França: " Primícias da minha seara" e " De joelhos". " Primícias..." é um florilégio, abrangendo textos poéticos extraídos dos livros " No jardim do Senhor", " Sob os céus da Palestina", " O louvor dos humildes", " E ouviu-se uma voz no céu...", " Um caminho no deserto" e " Rios do ermo."
            Os textos  encerram , em sua absoluta maioria, temas religiosos, bíblicos, como " O cego de Jericó", " O beijo de Judas", " Natal", e muitos outros. Mas há também inúmeros poemas em que o eu lírico assume um tom de aconselhamento, de encorajamento, preocupado com temas éticos ligados à fé na vida, à coragem diante das adversidades, ao civismo, ao amor materno, ao valor da mulher ( é bom lembrar que 8 de março deve durar o ano todo ), aos problemas sociais, especialmente o da miséria e do abandono em que vivem milhões de crianças e adultos brasileiros.
            MBF sempre ( ou quase sempre ) optava pela rima tradicional, consoante, e muitas vezes pelo poema de forma fixa, especialmente o soneto, em vez de aderir ao verso livre, tão valorizado pelos modernistas. Era uma opção consciente.
            Para ilustrar o que foi dito acima, gostaria de ler um fragmento da crônica " Encontro com Bandeira", da autoria do poeta e cronista Affonso Romano de Sant'Anna, que diz:
            " Encurtarei a estória. De repente, estou subindo num elevador ali na Av. Beira-mar, onde morava Bandeira. Eu havia trazido um livro com centenas de poemas, que um amigo encadernou. Naquela época escrevia muito, trezentos e tantos poemas por ano. E não entendia por que Bandeira ou Drummond levavam cinco anos para publicar um livrinho com quarenta e tantos poeminhas. A necessidade de escrever era tal, que dormia com  papel e lápis ao lado da cama ou, às vezes, com a própria máquina de escrever. Assim, quando a poesia baixava nos lençóis adolescentes, bastava pôr os braços para fora e registrar. E assim podia dormir aliviado.
            Mas o poeta havia pedido aos intermediários que eu fizesse uma seleção dos textos. O que era justo. E Bandeira tinha sempre uma exigência: o estreante deveria trazer algum poema com rima e métrica, um soneto, por exemplo. Era uma maneira de ver se o candidato havia feito opção pelo verso livre por incompetência ou com conhecimento de causa." ( Sant'Anna, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1995 )
            Sem mais delonga, gostaria de fazer uma pequena demonstração comparativa de dois grandes poetas recifenses: Manuel Bandeira ( Recife, 1886  ─  Rio, 1968 ) e Mário Barreto França ( Recife, 1909  ─  Niterói, 1983 ):

1)  O verdadeiro sentido do Natal.
a) Canto de Natal  ─  Manuel Bandeira, Poesia completa e prosa, p. 274.
           
            O nosso menino / Nasceu em Belém.
            Nasceu tão-somente /  Para querer bem.

            Nasceu sobre as palhas /  O nosso menino.
            Mas a mãe sabia / Que ele era divino.

            Vem para sofrer / a morte na cruz,
            O nosso menino. /  Seu nome é Jesus.

           
            Por nós ele aceita / O humano destino:
            Louvemos a glória / De Jesus menino.

b) Natal  ─  Mário Barreto França, Primícias da minha seara, p. 29.
            Quando Jesus nasceu, a natureza / Fez-se humilde e pequena para o ver
            Na sua doce e lírica pobreza, / Mostrando-lhe um sorriso de prazer.

            A aleluia dos cânticos, acesa, / Fulgia e palpitava em cada ser;
            No olhar dos pobres via-se a  certeza / De uma nova esperança resplender...

            E o pequenino Deus, na manjedoura, / Era do amor a bênção salvadora
            Feita, em noite de trevas, doce luz...

            Quando Jesus nasceu, piedoso e lindo, / Aos olhos do universo abriu sorrindo
            Os pequeninos braços numa cruz.

2) A extrema pobreza
a) Meninos carvoeiros  ─  Manuel Bandeira, Poesia completa e prosa, p. 192.
           
            Os meninos carvoeiros / Passam a caminho da cidade.
            ─  Eh, carvoero! / E vão tocando os animais com um relho enorme.

            Os burros são magrinhos e velhos. / Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
            A aniagem é toda remendada. / Os carvões caem.
            ( Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um                                                                                                                        gemido.)
            ─  Eh, carvoero!  /  Só mesmo estas crianças raquíticas
            Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
            A madrugada ingênua parece feita para eles...
            Pequenina, ingênua miséria! /  Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se                                                                                                                                 brincásseis!
            ─  Eh, carvoero!
           
            Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, 
            Encarapitados nas alimárias, / Apostando corrida,
            Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!

b) Menino triste  ─  Mário Barreto França, Primícias da minha seara, p. 229
           
            Carinha suja de menino triste, / Roupinha em trapos, suplicante olhar,
            Chegar o trem toda manhã assiste, / À espera humilde de trabalho achar...

            Menino pobre da cidade, fiz-te / O meu cuidado bem particular,
            Que o teu futuro em garantir consiste, / Dando-te o pão, o estudo, a crença e o                                                                                                                                           lar.
            Poucos te notam; dormes ao relento; / O teu cabelo grande e sujo, ao vento,
            Drapeja um sonho de ventura em pó...

            E, na cidade lúbrica e agitada, / Há tanta coisa, e não consegues nada,
            Há tanta gente, e vives triste e só!...

3.  Mulher: fortaleza e proteção
a) O menino doente  ─  Manuel Bandeira, Poesia completa e prosa, pp. 181-182.
           
            O menino dorme. / Para que o menino
            Durma sossegado, / Sentada a seu lado
            A mãezinha canta:

            ─  " Dodói, vai-te embora! / " Deixa o meu filhinho.
            " Dorme... dorme... meu..."

            Morta de fadiga, / Ela adormeceu.
           
            Então, no ombro dela, / Um vulto de santa,
            Na mesma cantiga, / Na mesma voz dela,
            Se debruça e canta:

            ─  Dorme, meu amor, / " Dorme, meu benzinho..."

            E o menino dorme.

b) A rocha  ─  Mário Barreto França,  De joelhos, p. 21
           
            Lá no centro do oceano empolado e bravio,
            Erguida permanece a rocha secular,
            Desnuda, exposta ao sol, ao vento, à chuva, ao frio
            E ao indômito furor das ondas a rolar...
           
            Nem os beijos da lua ou da brisa o cicio
            O pétreo coração lhe fazem palpitar;
            De peito erguido em um eterno desafio,
            Rasga, sem se doer, as entranhas do mar...
           
            Mas, da amplidão do oceano, essa eterna atalaia 
            Aponta um porto amigo, uma piedosa praia    
            Ou depara um refúgio ao náufrago viajor...

            ─  Coração de mulher! és uma rocha imensa
            Que, entretanto, nos dás a doce recompensa
            De uma praia feliz, no refúgio do amor...

4.  Amor e humor
a) Neologismo  ─  Manuel Bandeira, Poesia completa e prosa, p. 281
           
            Beijo pouco, falo menos ainda. / Mas invento palavras
            Que traduzem a ternura mais funda /  E mais cotidiana.
            Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. / Intransitivo:
            Teadoro, Teodora.

Simplesmente amor
b) Concurso de beleza  ─  Mário Barreto França, De joelhos, p. 87
           
            ─  "Qual a mais bela das mulheres? Esta,
            De sorriso que encanta e olhar que mata?
            Esta morena que se alegra em festa?
            Ou esta loura que o luar retrata?

            ─  Qual a mais bela? Aquela que se acata
            Por ser fidalga, por ser culta e honesta?
            Ou aqueloutra rica e que da prata
            Faz o seu Deus, a quem um culto presta?

            E esta de olhos azuis? E esta, elegante?
            Dize qual a mais bela e fascinante,
            Pois vencerá o voto que tu deres!"

            E eu respondo: ─  " A mais bela é a que me inflama!
            Doce querida, és tu, pois a quem se ama
            É a mais linda de todas as mulheres!"

5.  Cidade adotada
 a) Rio de Janeiro ─  Manuel Bandeira, Poesia completa e prosa, pp. 347-348
           
            Louvo o Padre, louvo o Filho / E louvo o Espírito Santo.
            Louvado Deus, louvo o santo / De quem este Rio é filho.
            Louvo o santo padroeiro /  ─  Bravo São Sebastião  ─ 
            Que num dia de janeiro / Lhe deu santa defensão.

            Louvo a cidade nascida / No morro Cara de Cão,
            Logo depois transferida / Para o castelo, de então
            Descendo as faldas do outeiro, / Avultando em arredores,
            Subindo a morros maiores, / ─  Grande Rio de Janeiro!

            Rio de Janeiro, agora / De quatrocentos janeiros...
            Ó Rio de meus primeiros / sonhos! ( A última hora
            De minha vida oxalá / Venha sob teus céus serenos,
            Porque assim sentirei menos / O meu despejo de cá.)

            Cidade de sol e bruma, / Se não és mais capital
            Desta nação, não faz mal: / Jamais capital nenhuma,
            Rio, empanará teu brilho, / Igualará teu encanto.
            Louvo o Padre, louvo o Filho /  E louvo o Espírito Santo.

b) Praia de Icaraí  ─Mário Barreto França, De joelhos, pp. 46-47
           
            Praia de Icaraí, recanto amado / Da travessa e formosa Niterói,
            Leito de rendas brancas e bordado / Que o mar na sua fúria não destrói!

            Praia de Icaraí, quando eu te vejo, / Toda risonha num "maillot" vestida,
            Tenho vontade de roubar-te um beijo / E nesse beijo desistir da vida.

            E quando, à tarde, ao sol doirando as águas, / Tu ficas seminua a te banhar,
            Ciumento, eu quero dominar as mágoas /  Num louco impulso de vencer o mar...

            E toda entregue a essa volúpia ardente / Do sol que morre a te afagar assim,
            Tenho desejo de te ver ausente / Ou ser a treva a te esconder em mim.

            Praia de Icaraí, quanto és formosa, / Como jamais ninguém te idealizara:
            Toda vestida de botões de rosa, / Nas águas verde-azuis da Guanabara!
                                                           *
            Manuel Bandeira e Mário Barreto França são poetas pernambucanos, cariocas, niteroienses e... brasileiríssimos. MB significa Manuel Bandeira, significa Mário Barreto e significa, acima de tudo, MUITO BONS!
                                                           **

            Referências bibliográficas

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974.
FRANÇA, Mário Barreto. De joelhos. Ed. do Autor, 1968.
________, _____ ______  Primícias da minha seara. 4.ed. Rio de Janeiro. Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987.

                        Academia Niteroiense de Letras.
                       
                            Niterói, 01 de abril de 2009.

                                  Luiz Antonio Barros